Saiba mais sobre o Rio Negro

O território do Rio Negro é uma das regiões da Amazônia com altíssima diversidade socioambiental, na qual os recursos naturais estão bem conservados pelas populações nativas que tradicionalmente ali vivem. Fruto de uma longa história natural, o Rio Negro abriga em seus limites um conjunto de várias paisagens.
O território delimitado no Origens Brasil® tem mais de 39 milhões de hectares, o equivalente ao tamanho da Noruega , e abriga 43 Terras indígenas, 25 unidades de conservação, 1 projeto de desenvolvimento de sustentável e 1 território quilombola.
Apesar da ameaça constante decorrente principalmente do avanço da mineração, construção de hidrelétricas, estradas, e outros, o território apresenta um baixo índice de desmatamento, principalmente em função do alto protagonismo indígena na luta contra esses vetores de pressão.
Assim, o denominado Território Rio Negro, constitui uma arena estratégica para o diálogo interinstitucional e intercultural sobre uso sustentável de recursos naturais e repartição dos benefícios da biodiversidade (Bacia Rio Negro, uma visão socioambiental. 2015).
Localização do Rio Negro
O território em números...

Diversidade Sociocultural
O território definido como Rio Negro pelo Origens Brasil ® abriga 33 povos indígenas, além de ribeirinhos, e quilombolas, constituindo uma região com significativa diversidade sociocultural. Estas populações habitam a região há milênios, produzindo um conhecimento minucioso de seus territórios e desenvolvendo formas eficientes de manejo ambiental.
No Lavrado e nas florestas do sul de Roraima habitam os povos dos troncos Karib e Aruak. Nas florestas e terras mais altas está o povo Yanomami, com grupos ainda isolados. Do Médio e alto Rio Negro vivem povos Tukano Orientais, Aruak, e Nadähup, compondo um extenso sistema social.
Como explicam as organizações integrantes da Rede Rio Negro, até o início do processo colonial, o baixo Rio Negro era habitado por grandes populações indígenas que foram dizimadas por doenças, guerras, ou ainda, que migraram para outras regiões, fosse de maneira compulsória ou espontânea.
No baixo Rio Negro predominam populações ribeirinhas e ocupações mais adensadas em centros urbanos e regiões periféricas. No geral, são agricultores, pescadores e extrativistas, que estão ligados aos diversos ciclos de extração da borracha. Ao longo do tempo, e a partir do contato com os índios, essas populações desenvolveram vasto conhecimento sobre o ambiente local.
Cada um desses povos transmite e atualiza conhecimentos, práticas, técnicas e formas particulares de entendimento do mundo, fortemente associadas à conservação da diversidade ambiental.

Pressões e Ameaças
O baixíssimo índice de desmatamento no Rio Negro e o protagonismo indígena contrastam com projetos estatais de desenvolvimento com base na mecanização da agricultura tradicional, na monocultura, no latifúndio, e na mineração. As plantações de coca, a criação de gado e a mineração ameaçam ainda importantes áreas das nascentes do Rio Negro. Os incentivos governamentais à ocupação do solo, à agricultura e pecuária extensiva e o plano de construção de hidrelétricas ameaçam toda a bacia do Rio Branco, onde há o maior potencial eólico do norte do Brasil.
Além disso, as estradas na região do Rio Negro causaram diversos impactos sociais, econômicos e ambientais. A construção das rodovias BR 174 e BR 210, na década de 1970, contribuiu para a explosão populacional e a ocupação desordenada dos estados do Amazonas e Roraima. Grande parte do desmatamento foi registrada ao longo das grandes rodovias. A construção da BR 210, ou Perimetral Norte, causou impactos severos ao povo Yanomami, enquanto a BR 174, ligando Manaus (AM) à Boa Vista (RR), quase dizimou por completo a população dos índios Waimiri Atroari.
As estradas estaduais AM 010 e AM 352 instaladas no interflúvio Negro-Solimões conectando os municípios de Manacapuru, Iranduba e Novo Airão seguem o mesmo caminho. O desmatamento nesse interflúvio se intensificou ainda mais com a construção da Ponte do Rio Negro inaugurada em outubro de 2011.

Conheça as áreas protegidas e os povos que vivem no Território do Rio Negro

# | Categoria | Nome da Área Protegida | Etnia ou Grupo Social | Área (há) | População |
1 | Terra Indígena | Alto Rio Negro | Arapaso, Baniwa, Bare, Barasana, Desana, Hupda, Carapanã, Koripako, Kotiria, Kubeo, Makuna, Siriano, Pira-Tapuya, Miry-Tapuya, Tariana, Tukano, Warekena, Yuhupde | 8.001.223,51 | 26046 |
2 | Terra Indígena | Ananás | Macuxi, Wapichana | 2.748,45 | 9 |
3 | Terra Indígena | Anaro | Wapichana | 31.751,32 | 42 |
4 | Terra Indígena | Aningal | Macuxi | 7.668,54 | 245 |
5 | Terra Indígena | Anta | Macuxi, Wapichana | 3.188,52 | 183 |
6 | Terra Indígena | Araçá | Macuxi, Wapichana | 51.255,87 | 2016 |
7 | Terra Indígena | Balaio | Baniwa, Bare, Dena, Koripako, Kubeo, Pira-Tapuya, Tariana, Tukano, Tuyuka | 257.068,01 | 328 |
8 | Terra Indígena | Barata/Livramento | Macuxi, Wapichana | 12.820,81 | 710 |
9 | Terra Indígena | Bom Jesus | Macuxi, Wapichana | 888,94 | 57 |
10 | Terra Indígena | Boqueirão | Macuxi, Wapichana | 16.427,70 | 464 |
11 | Terra Indígena | Cajueiro | Macuxi | 4.563,40 | 168 |
12 | Terra Indígena | Canauanim | Macuxi, Wapichana | 11.375,68 | 982 |
13 | Terra Indígena | Cué-Cué/Marabitanas | Arapaso, Baniwa, Bare, Desana, | 786.779,67 | 1864 |
14 | Terra Indígena | Jaboti | Macuxi, Wapichana | 14.247,81 | 380 |
15 | Terra Indígena | Jacamim | Wapichana | 192.659,76 | 1461 |
16 | Terra Indígena | TI Jurubaxi-Téa | Arapaso, Baniwa, Baré, Desana, Dow, Koripako, Pira-tapayuna, Tariana, Ticuna, Tukano | 1.207.170,70 | 904 |
17 | Terra Indígena | Malacacheta | Wapichana | 28.916,02 | 1073 |
18 | Terra Indígena | Mangueira | Macuxi, Wapichana | 4.668,29 | 93 |
19 | Terra Indígena | Manoá/Pium | Macuxi, Wapichana | 44.032,50 | 2268 |
20 | Terra Indígena | Maraã/Urubaxi | Kanamari | 94.206,78 | 185 |
21 | Terra Indígena | Médio Rio Negro I | Arapaso, Dow,Baniwa, Bare, Desana, Koripako, Pira-Tapuya, Miry-Tapuya, Tariana, Tukano, Yuhupde | 1.802.631,79 | 1989 |
22 | Terra Indígena | Médio Rio Negro II | Arapaso, Baniwa, Bare, Desana, Koripako, | 314.796,06 | 1367 |
23 | Terra Indígena | Moskow | Macuxi, Wapichana | 14.228,93 | 626 |
24 | Terra Indígena | Muriru | Wapichana | 5.542,75 | 184 |
25 | Terra Indígena | Ouro | Macuxia | 13.803,56 | 189 |
26 | Terra Indígena | Paraná do Boá-Boá | Nadob | 244.084,60 | 347 |
27 | Terra Indígena | Pirititi | Isolados | 43.282,11 | Isolados |
28 | Terra Indígena | Pium | Macuxi, Wapichana | 4.556,94 | 325 |
29 | Terra Indígena | Ponta da Serra | Macuxi, Wapichana | 15.279,54 | 315 |
30 | Terra Indígena | Raimundão | Wapichana | 4.278,24 | 385 |
31 | Terra Indígena | Raposa Serra do Sol | Macuxi, Taurepang, Wapichana, | 1.738.164,40 | 23119 |
32 | Terra Indígena | Rio Apapóris | Desana, Tukano, Tuyuka, Yuhupde | 106.682,68 | 349 |
33 | Terra Indígena | Rio Tea | Bare, Desana, Nadob, Pira-tapuya, | 412.274,90 | 323 |
34 | Terra Indígena | Santa Inês | Macuxi | 28.579,46 | 195 |
35 | Terra Indígena | São Marcos | Macuxi, Taurepang, Wapichana | 651.746,08 | 5838 |
36 | Terra Indígena | Serra da Moça | Wapichana | 11.345,82 | 697 |
37 | Terra Indígena | Sucuba | Macuxi, Wapichana | 6.407,77 | 343 |
38 | Terra Indígena | Tabalascada | Macuxi, Wapichana | 12.974,30 | 682 |
39 | Terra Indígena | Truaru | Wapichana | 5.900,82 | 413 |
40 | Terra Indígena | Uneiuxi | Nabod | 552.388,47 | 249 |
41 | Terra Indígena | Waimiri Atroari | Waimiri atroari | 2.590.715,83 | 1906 |
42 | Terra Indígena | Wai Wai | Wai Wai | 405.752,37 | 365 |
43 | Terra Indígena | Yanomami | Yanomami, Ye'kuana | 9.506.604,51 | 23512 |
44 | Unidade de conservação (Uso Sustentável) | ESEC Niquiá | - | 284.142,77 | 0 |
45 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | ESEC de Caracaraí | - | 84.438,01 | 0 |
46 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | ESEC de Maracá | - | 102.697,39 | 0 |
47 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | PARNA Serra da Mocidade | - | 361.374,38 | 0 |
4 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | PARNA de Anavilhanas | - | 353.192,29 | 0 |
49 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | PARNA do Jaú | 2.369.740,47 | 0 | |
50 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | PARNA do Monte Roraima | - | 113.700,36 | 0 |
51 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | PARNA do Pico da Neblina | - | 2.239.468,10 | 0 |
52 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | PARNA do Viruá | - | 215.215,36 | 0 |
53 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | PES da Serra do Aracá | - | 1.852.617,29 | 0 |
54 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | PES do Rio Negro Setor Norte | 146.168,96 | 0 | |
55 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | PES do Rio Negro Setor Sul | 86.220,21 | 0 | |
56 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | REBIO Morro dos Seis Lagos | - | 37.721,63 | 0 |
57 | Unidade de conservação (Proteção Integral) | REBIO do Uatumã | - | 939.020,74 | 0 |
58 | Unidade de conservação (Uso Sustentável) | APA Baixo Rio Branco | - | 1.199.116,69 | SI |
59 | Unidade de conservação (Uso Sustentável) | APA Caverna do Maroaga (Presidente Figueiredo) | - | 408.432,34 | SI |
60 | Unidade de conservação (Uso Sustentável) | APA Margem Direita do Rio Negro | - | 462.542,69 | SI |
61 | Unidade de conservação (Uso Sustentável) | APA Margem Esquerda do Rio Negro | Extrativistas | 608.284,06 | 461 |
62 | Unidade de conservação (Uso Sustentável) | FLONA de Anauá | - | 259.546,87 | SI |
63 | Unidade de conservação (Uso Sustentável) | FLONA de Roraima | - | 167.429,65 | SI |
64 | Unidade de conservação (Uso Sustentável) | FLONA do Amazonas | 1.842.110,48 | SI | |
65 | Unidade de conservação (Uso Sustentável) | RDS Puranga Conquista | Extrativistas e Ribeirinhos | 76.596,62 | 381 |
66 | Unidade de conservação (Uso Sustentável) | RDS do Rio Negro |
| 101.636,87 | 600 |
67 | Unidade de conservação (Uso Sustentável) | RDS do Uatumã | Extrativistas | 422.976,98 | 1300 |
68 | Unidade de conservação (Uso Sustentável) | RESEX Rio Unini | Extrativistas | 848.060,66 | 176 |
69 | Território Quilombola | TQ do Tambor | Quilombolas | 719776,2185 | SI |
70 | Projeto de Desenvolvimento Sustentável | Cuieiras Anavilhanas | Extrativistas | 120.002,77 | SI |
39.892.710,13 | 106.114 |
Os Cogumelos Yanomami do Rio Negro
Produto direto do seu sistema agrícola, os cogumelos, conhecidos pelos Yanomami fomentam pesquisas interculturais e emergem como uma alternativa de renda para a região de awaris, na TI Yanomami. Nas palavras de Davi Kopenawa Yanomami: “vocês não-indígenas não conhecem a floresta e por isso desmatam indiscriminadamente. Onde tem pés de koanarisi (patauá) vocês derrubam, onde tem mokamosi (marajá) vocês derrubam, onde tem pés de hokosi (bacaba) vocês derrubam. Vocês estragam a floresta sem pensar nas consequências. Nós Yanomami não fazemos assim. E por isso os cogumelos comestíveis, ana amo, nascem na floresta”.
Curiosidades do Rio Negro
No território do Rio Negro encontram-se os maiores picos do Brasil: Pico da Neblina (2.994 m), 31 de Março (2.973 m) e Monte Roraima (2.810 m).
A bacia do Rio Negro abrange área de quatro países, sendo Brasil, Colômbia, Venezuela e Guiana, e abriga cerca de 45 povos indígenas, falantes de 25 línguas além de ribeirinhos e quilombolas, constituindo uma região de significativa diversidade sociocultural.
O Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro foi reconhecido como patrimônio cultural brasileiro em novembro de 2010 pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) a partir de uma iniciativa das associações indígenas locais, apoiadas por instituições de pesquisa e organizações da sociedade civil.
A agricultura indígena e ribeirinha é um patrimônio e fonte de diversos produtos!
No território do Rio Negro ainda encontram-se índios isolados, ainda sem contato com a nossa sociedade.